30.11.2015 /

Se tudo fosse tão simples como um plano perfeito, com certeza, nós não estaríamos aqui. A falta de clientes é um fenômeno que está sendo vivenciado por todos os ramos do País. É certo que a situação econômica brasileira ajuda a manter o mau humor econômico, porém como quebrá-lo?

Atuo no mercado imobiliário há 15 anos. Conheci centenas de incorporadores, construtores e imobiliárias. Tenho ciência do funcionamento de todas as molas e engrenagens do setor; desde o desenvolvimento de um negócio até a sua entrega. E como todos no mercado, também estou enfrentando essa nova etapa. Tive que me curvar aos novos paradigmas e entender como prosseguir com as condições atuais. Vivemos um momento de transição. É obrigação do corretor se adaptar ao período atual. Mas de que vale uma adaptação se não temos clientes?

Na verdade, os clientes estão aí, mas nós ficamos cegos. É uma afirmação forte, mas explicarei como cheguei a tal conclusão.

Se entrarmos em uma grande imobiliária, veremos banners, oferta de prêmios, posters de grandes incorporadores e seus empreendimentos. A cada passo, o corretor é levado, mentalmente, a focar em poucos incorporadores que pagam comissão diferenciada, oferecem prêmios mirabolantes e promovem verdadeiros espetáculos em suas apresentações. Aliás, só é lembrado, quem é visto.

Entretanto o resultado é desanimador. As vendas não andam.

Essa fórmula funcionou por algum tempo. No início do boom imobiliário, o mercado se transformava com rapidez. Existia a necessidade de se sustentar as aberturas de capitais, as novas incorporadoras que surgiam, os novos fundos imobiliários. E para tal faz-se necessário a figura do corretor de imóveis. Afinal alguém precisa vender.

Tão rápido quanto a nova leva de negócios imobiliários, foi a contratação de novos corretores. A necessidade de se alimentar um mercado em fúria traduziu-se na contaminação da profissão do intermediador de venda.

Profissão do momento! Mude de vida! O sangue das imobiliárias tem poder! Não é auto-ajuda, muito menos comunicado de Igreja, eram anúncios de imobiliárias durante o boom imobiliário que acontecia. Era praxe, há alguns anos, encontrar diversos anúncios de vagas para novos corretores neste padrão.

 

Diferentemente da classe que se tentava manter no passado, a nova leva de contratados contava com pessoas que não tinha sequer a noção básica de compra e venda de imóveis. Devido a carência de tempo para preparação profissional, a qualidade de opinião e consultoria despencaram. Não havia noção sobre financiamento, documentação e legislação. Os novos corretores, que sonhavam com o longínquo “El dorado” eram alistados e literalmente jogados num mercado de burocracias, minúcias e particularidades Porém, aqueles que se destacavam com uma certa noção de mercado, foram rapidamente promovidos para gerente.

A efetivação do instrumento de gerência interferiu diretamente na figura corretor que tornou-se cada vez mais minimizada e desprestigiada. A nova estratégia das imobiliárias era mantê-los como um telemarketing pessoal. O corretor ligava, oferecia o imóvel para 50 a 100 pessoas por dia, e tentava marcar alguma visita ou agendamento para um futuro lançamento. Caso houvesse interesse por parte do cliente, o gerente assumia a negociação e prosseguia em caso de fechamento.

O corretor deixou de ser o grande intermediador e se torna um promotor de vendas por telefone. Um paradigma histórico fora quebrado por necessidades temporais e emergenciais.

Em virtude da magnitude que o projeto ganhava e o volume que se formava, nasceu a expressão “exército de corretores”. O intuito era inchar a sua máquina imobiliária com o maior número de pessoas. Não importava qualificação, procedência, grau de instrução ou preparação. Valia de tudo!

Todas as imobiliárias queriam montar o famoso “exército de corretores”, e que de “armada” não tinha nada. Tais como os grandes conflitos da história e suas convocações em massa, a força de trabalho era formada por vendedores, técnicos, estudantes, professores, desempregados entre outros, isto é nada sabiam sobre mercado imobiliário. Com pouco ou nenhum treinamento, muitos não viram sequer a cor do dinheiro: foram engolidos pela inexperiência ou por grupos fechados de imobiliárias. Alguns mais espertos se sobressaíram e conseguiram o seu sustento por um certo período. Pouquíssimos usufruíram da vitória.

 

O “exército” foi criado com a intenção de se mostrar a magnitude de uma empresa. Quanto mais inchada, melhor. Era uma forma de convencimento dos incorporadores e construtoras. Fisgava-se o maior número de lançamentos no mercado.

Pensando friamente, se enfrentamos uma batalha e precisamos de força, num primeiro momento escolhemos sempre a equipe maior, independente de sua qualificação. A escolha era pelo maior contingente. Foi desta forma que o mercado de vendas foi conduzido no período do boom. Teoricamente quanto mais “promotores de vendas por telefone” uma imobiliária tivesse, maior seria o resultado para o interessado.

A nova estratégia surtiu efeito nos tempos áureos do mercado imobiliário. O cliente, entusiasmado com o frenesi e o estado de exaltação das vendas e lançamentos, entrou no mercado pagando por preços absurdos, especulando e comprando imóvel cujo uso futuro era inegavelmente desconhecido.

Mas, com o passar do tempo, o furor dos lançamentos em série, vendas em 2 horas e lucratividade exorbitante terminaram. Sobrou o velho e bom mercado imobiliário.

Retornaram os “velhos investidores”, cujo preceito primordial de compra é o preço. Não adianta mais o corretor focar em valores de m² mais caros do mercado para vender. O espetáculo dos grandes incorporadores não faz venda. O cliente não aceita mais essa situação.

A era dos lançamentos terminou.
O novo mercado quer preço, e somente isso.

 

Interrompa o seu ciclo de espectador de grandes incorporadores e parta para o princípio básico de sua profissão: a venda.

Você sabia que em sua imobiliária existe um cadastro de milhares de imóveis a venda? Por que você não o estuda? Normalmente seus preços giram em torno de 10% a 20% a menos que as ofertas dos incorporadores. Ligue para os proprietários. Estreite o relacionamento com a imobiliária. Visite o imóvel. Anuncie.

Se a imobiliária atual não concordar com sua mudança de trabalho, procure por outra que ofereça essa oportunidade. Não fique atrelado eternamente a uma empresa que ainda vive de lançamentos.

Lembre-se que no final de cada dia, você chega em casa encontra sua esposa(o) e filhos, e todos perguntam como foi seu dia, se obteve sucesso, se aquele cliente apareceu. Diariamente, você responde “não” e culpa o mercado. Será que essa responsabilidade também não é sua? Mude sua forma de trabalho. Adapte-se ao novo mercado. Seja um colaborador de suas ideias. Você precisa vender, e não ficar aplaudindo incorporadores.

Por isso pense diferente. Siga os seguintes passos:


  • Preparar-se culturalmente para o mercado imobiliário;
  • Focar nas melhores oportunidades de preço.  Entre 10 a 15 imóveis;
  • Conhecer os vendedores e seus respectivos imóveis.
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  • Repense e reveja seus conceitos de corretor. Não existe fórmula milagrosa, você só precisa se adaptar às condições atuais. Torne-se um vendedor. Corretor não tira pedido, corretor vende. Tenho certeza que sua vida profissional sofrerá alterações boas e aquele dinheiro que há tanto tempo não vem, brotará novamente em seu bolso. Caso contrário, você continuará sentado no fundo do auditório aplaudindo uma realidade que só existe em seus sonhos.
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  • Por Luiz Paulo Junior - Resumo Imobiliário